Depois de 1983, população, pesquisadores, militares e governantes passaram a pensar em prevenção e garantiram ao Vale os primeiros investimentos contra desastres climáticos
A enchente de julho de 1983 deixou destruição e traumas aos catarinenses, mas também aprendizados. Fez população, pesquisadores, militares e governantes pensarem em prevenção, discurso que até então não encontrava eco. Em 1984, após uma nova cheia, a primeira ação: a rede de telemetria foi instalada, permitindo que a região passasse a acompanhar o nível dos rios. Foi o primeiro de uma série de investimentos. Mas, como se sabe hoje, ainda há muito a fazer.
Também em 1984, o início de outra transformação pós-cheia: nascia a Oktoberfest. O evento já estava nos planos do prefeito Renato Vianna, em 1981, mas apenas no governo de Dalto dos Reis virou realidade:
– A festa estava programada para 1983, mas não havia clima. Em 1984, a enchente veio novamente, mas resolvemos manter a festa. Foi também uma forma de dizer que Blumenau tinha se recuperado.
A primeira Oktober entrou para a história com a versão romântica de que teria sido criada para levantar o ânimo da população. Não foi a proposta inicial. Mas se Blumenau ficou conhecida no país pela reação a catástrofes, passou a ser lembrada pelo colorido dos desfiles e pela alegria dos foliões.
Cinco anos depois, foi criado o Departamento de Defesa Civil. Com ele, vieram procedimentos padrão, um plano de contingência e o preparo de lideranças. Hoje são 60 abrigos cadastrados e um Grupo de Ações Coordenadas, que busca prevenir e reagir a enchentes e deslizamentos. Rio do Sul, Itajaí, Brusque e Gaspar também mantêm planos de contingência atualizados.
No Alto Vale, a construção da Barragem Norte, em José Boiteux, foi acelerada, ao menos para os padrões de obras preventivas deste porte. Quando concluída – somente em 1992 –, foi considerada a maior obra de contenção de enchentes do Brasil. Durante a década de 1990, quando o Vale do Itajaí passou por nova cheia, foram divulgadas as cotas de enchente, que informam quando cada rua é alagada.
– Com esses dados, a população fica mais consciente e sabe em que hora começar a agir quando chove – explica o engenheiro hidrólogo Ademar Cordero.
O ano de 1983 marcou o início de uma mudança de mentalidade, reforçada cinco anos atrás, pelo desastre de 2008. Só após os deslizamentos de terra em série, uma nova enchente e 135 vidas interrompidas, prevenção virou verbete frequente no Vale. A observação é do comandante-geral do Corpo de Bombeiros de SC, Marcos de Oliveira.
Em 2012, o Estado deu os primeiros passos do Plano de Ações contra Desastres Naturais, com base em um estudo feito pela Agência Japonesa de Cooperação Internacional. Os investimentos (veja tabela), aos poucos, começam a virar realidade.
– As chuvas sempre vão ocorrer. Temos que minimizar problemas crônicos. O Vale é um corredor e isso nunca vai mudar – avalia o secretário de Estado de Defesa Civil, Milton Hobus.
| PLANO DE AÇÕES |
| O pacote de obras engloba ações de prevenção e mitigação de desastres naturais, com investimentos de R$ 608 milhões do Pacto por Santa Catarina, Ministério da Integração Nacional e Fundo Estadual de Defesa Civil. O prazo para conclusão das obras é 2016 |
| - Sobrelevação de barragens de contenção de cheias em Taió e Ituporanga |
| - Implantação de radar meteorológico em Lontras |
| - Melhoramento fluvial e instalação de duas comportas no Rio Itajaí-Mirim |
| - Implantação de sete pequenas barragens no Vale e uma de médio-porte em Botuverá |
| - Construção de pontes e criação de canais nos rios de Taió, Timbó e Rio do Sul |
| - Promoção de estudos ambientais e socioambientais em Taió, Timbó e Rio do Sul e Timbó |
| - Implantação do sistema de monitoramento de alerta e alarme do Estado |
Fonte: Jornal de Santa Catarina | Jornalistas: DANIELA MATTHES FERNANDA RIBAS

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